sábado, 30 de julho de 2011

Como é difícil ver quem a gente ama sofrendo! (Texto 3 em 1)

Teoricamente hoje (02:26h do dia 30/07/2011) é sábado, mas pra mim ainda é sexta. Sendo assim, ontem recebi duas notícias tristes.

A primeira foi assim que acordei e liguei o computador. Como de costume entrei no facebook e a primeira coisa que leio é um recado de uma colega dizendo que o Renato, colega nosso de faculdade, faleceu na quarta-feira. A primeira reação foi um choque. Ele, tão novo, alegre, divertido e, de repente, morto? Não da pra acreditar fácil assim. Fui procurar mais notícias e aos poucos consegui. Descobri que ele morreu por uma meningite. Estava no Tocantins, passou mal por lá, ficou na UTI e acabou falecendo (não gosto desse termo: falecer). O corpo dele só chegou em Goiânia as 23h da quinta-feira.

A segunda notícia não foi dada logo de cara assim. Eram 12:50h quando meu telefone tocou. Eu estava prestes a ir almoçar e ainda buscando notícias do Renato. Era a Renatinha que ligava de um número que não tinha salvo no celular. Ela estava com a voz diferente, apreensiva. Mal disse oi e já perguntou se meu carro estava aqui em casa. Por um breve momento pensei que ela tinha visto meu carro passando numa avenida, que tinham roubado meu carro, mas não era nada disso. Eu disse que o carro estava aqui sim e logo ela perguntou se tinha como levá-la com uma tia até a vila aurora. Eu disse que sim, que tinha como, e comentei sobre o que pensei quando ela perguntou do carro. Ela disse que não era isso, e que era ainda pior. Estranhei muito mas não disse nada. Marquei de buscá-la naquela mesma hora. Desliguei o telefone, troquei de roupa e fui, sem ter a mínima idéia do que me esperava.
Sai até sem almoçar, e olha que o almoço tava pronto e tinha strogonoff.

Cheguei na porta do prédio da avó dela e ela já esperava na porta junto com a tia-avó. Ela de calça jeans, sandália e uma blusa verde, meio verde-água-escuro. Elas entraram no carro, clima meio pesado, e eu perguntei pra onde iriamos. Ela respondeu e o silêncio se instalou. Perguntei se eu devia ir rápido ou se podia ir de boa, ela disse algo tipo "tanto faz". E um pouco depois, ainda descendo a av. milão, ela me conta que o tio dela, o Élio, havia falecido. Foi esse o termo que ela usou.Foi o estado de choque número 2 do dia. E esse foi ainda mais chocante!
A Rê não me olhava, se manteve olhando pra frente, e eu dirigindo e olhando pra ela sempre que dava. Tentando não fazer as mil perguntas que passavam pela minha cabeça na hora. E assim foi por um bom tempo, sem que ela me olhasse nos olhos.
A gente chegou na casa da tia dela e enquanto a tia banhava e arrumava uns documentos a gente tentou almoçar (comemos pouquíssimo). Nisso o telefone da Rê não parava de tocar. E foi assim ao longo do dia. Chamadas, mensagens. Conversei um pouco com ela enquanto a tia arrumava, falei pra ela chorar lá porque tinha certeza que ela não ia querer se mostrar frágil diante dos outros familiares. E assim foi feito, por muito menos que um minuto, mas pelo menos ela extravasou um pouco.

Depois disso ao longo do dia eu a acompanhei em tudo, tentando ao máximo ser útil e discreta. Não atrapalhar nada nem ninguém. Fui na casa da tia, no IML, na casa da vó, na casa dela, comprei lanche e a fiz comer um pouco, fui ao cemitério e virei a noite lá. Estive com ela e com a família todo o tempo, até a volta pra casa no dia seguinte.

E ao longo desse longo dia me sensibilizei muito, não só com a Renatinha, mas com toda a situação e com toda a família. Eu também conhecia o tio, foi ele que levou a gente (a Rê, eu, a gorda e a Jú) pro rio vermelho em 2008. Passamos uns dias juntos lá, com a vó e o vô também. E, sem dúvida, senti a perda dele também; mas o que mais me sensibilizava ali era ver, tão de perto e sem poder fazer nada, a dor de todas aquelas pessoas queridas.
Aquela é uma família que eu acabei 'adotando' e fui sendo adotada também. É a vó que eu também chamo de 'vó'; o vô, que eu também chamo de 'vó'; a tia e o tio que são 'tios' meus também. Pela convivência acabou sendo assim. As vezes vejo mais alguns familiares da Rê do que os meus próprios. E ver esse tanto de gente boa, de gente especial e querida, sofrendo dessa maneira me partiu o coração.

Eu tentava ao máximo não chorar, mas tinha hora que não dava. Quando chegamos no apartamento da 'vó' e eu fui cumprimentando a família e, especialmente com a tia e a 'vó', não deu pra segurar o choro. Essas são cenas que eu não devo esquecer tão cedo (pra não dizer nunca). E também, nas poucas vezes ao longo dessas 24 horas, quando a Rê chorou, não dava pra segurar. É só ver ela chorando daquele jeito que, pronto, to chorando junto.

Graças a Deus foram pouquíssimas vezes que vi a Rê chorando dessa maneira. Eu gosto DEMAAAAIS dessa menina! É muito diferente, sabe? Chega a ser estranha a dimensão do sentimento que tenho por ela. É muito carinho, muito afeto, muito amor. É sentimento demais pra vê-la sofrendo assim. Vê-la sem aquele sorriso lindo no rosto, sem aqueles olhos brilhosos que quase se fecham quando ela ri. E o pior é não poder fazer nada. Absolutamente nada pra mudar a situação.

Eu só queria poder parar, um pouco que fosse, o sofrimento de todos ali. Especialmente da Rê, da 'vó', das 'tias' e dos 'primos'. Eram eles os que (aparentemente) estavam mais sensibilizados com a situação.
Deus sabe o quanto eu queria poder fazer algo! Poder dizer que ta tudo bem, que é trote, coisa de novela, produção hollywoodiana ou qualquer coisa do tipo. Qualquer coisa que desse um fim a tamanha dor e sofrimento. Mas, infelizmente não dava, não tinha nada a ser feito. Nada além de encarar a situação, dar apoio, tentar dar força, carinho, atenção. E foi isso que eu tentei ao máximo fazer ao longo (e bota longo nisso!) do dia.

Por mais que diretamente não doa tanto, ver a dor tão presente assim na vida de quem a gente gosta, acaba fazendo doer na gente também. E não é algo passageiro. É dor que marca, que não vai ser esquecida. Com o tempo eu acredito que ameniza, que outras situações vem e tiram o foco dessa, mas a marca vai ficar. Mesmo que, com menor intensidade, vai continuar doendo.

E digo isso pensando não só na Rê, mas também em outros amigos que perderam familiares, e também na falta que sinto dos meus.



Sabe o que eu pensei durante a madrugada do velório? Que vai demorar tempo, muito tempo, mas muuuito tempo mesmo, pra eu ver de novo a 'vó', a tia e a Rê com A-QUE-LE sorrisão. Aquele espontâneo de brilhar o olho e deixar ele pequeno, estilo 'japonesa'. Aquele de chegar faltar ar, sabe? Uma família, três gerações, que eu sempre vi tão alegres, engraçadas, sorridentes e, de repente, vejo naquele choro contido e incontido. É de cortar coração mesmo.
E, depois de pensar nisso eu espero, de verdade verdadeira do fuuundo do coração, que eu esteja errada. Esteja muito errada dessa vez.

Espero que passe, e passe logo, pra aquela alegria toda voltar a ser a rotina. :)





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E durante o dia, a noite, agora e por um bom tempo eu pensei, e continuo pensando, me perguntando "e quando chegar a minha vez? Quando for um familiar meu? Como vou reagir??"

Cada vez mais a morte ta rondando, chegando perto. E quando ela da as caras assim, sempre de repente, eu penso ainda mais nisso. E é pensamento que não acaba mais.


E tem sido assim esses dias.
Cansada? Pensativa? Sensibilizada? [ironia]Nãããão. Imagiiina![/ironia]






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Morte é um assunto que disperta minha curiosidade. E já tem um bom tempo que é assim. Tanto que já escrevi outras vezes aqui sobre esse assunto.

Acredito que boa parte de nós, seres humanos, não estamos preparados pra lidar com a morte. Seja a própria morte ou seja a morte de alguém próximo.
E eu acredito que não estamos 'preparados' por não pensarmos muito a respeito da morte. Por não encará-la. Por não pensar nessa situação, por não falar sobre isso, por não trocar idéia. Muita gente evita esse assunto, evita de pensar na situação da morte.

Nem sei se pensar nisso é o bastante pra se 'preparar'. Na verdade, na verdade, a gente nunca ta preparado pra morte. Mas penso que se 'Morte' não fosse tabu, fosse assunto mais discutido, talvez seria um pouco mais amena a reação quando ela bate tão de frente assim, tão perto.

Talvez essa serenidade (que vi pouquíssimas vezes) na reação a morte de alguém próximo esteja intimamente ligada a maturidade, a experiência (e, como já disse aqui no blog, pra mim experiência e idade não tem relação direta); e, principalmente, a como aconteceu a morte. Existem situações e situações, e em algumas delas acredito que não da pra se manter sereno assim. É realmente inconformável.

Eu espero um dia ter essa serenidade, essa aparente tranquilidade, pra encarar situações como essa. E espero, ainda mais, que isso não seja confundido com sentir menos ou não sentir. Acredito sim que é possivel sentir, e sentir muito, a falta, a morte de alguém e ainda assim manter-se centrado, sereno.

Cada um tem seu jeito de ser, de sentir, de falar ou não falar. E é preciso, antes de qualquer coisa, respeitar a maneira de cada um.

Que eu consiga, ao longo do tempo, chegar nesse nível de serenidade. Não só ao encarar a morte, mas em várias outras situações da vida.
Amém!


Não sei até quando duraria, mas, hoje, queria ser assim.





P.S.: Texto pronto as 04:40h. Duas horas e pouco escrevendo na madrugada.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Favores

Acabei de ler esse texto no site da Tati Bernadi e resolvi publicar.
É muito eu. Ou melhor, é muito eu a um tempo atrás...



Favores

"A ideia de hoje foi te pedir um favor. Eu escolheria algum texto que gosto muito e você leria pra mim. Sem oi, sem tchau, sem coisas feitas ou a fazer. Nada de você, nada da sua vida. Nada que constate a sua existência independente. Apenas a sua voz. Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito. Como se meu coração fosse uma dessas caixinhas surpresas e você o boneco de mola pra assustar crianças. Elas se assustam mas riem e abrem de novo e de novo.
Acabei de ver Santiago, o documentário, e tive um acesso de choro daqueles. Ele escreveu sobre toda a aristocracia do mundo e isso arrasou comigo, amor. Arrasou. Ele era o garçom das festas, que você chorava. Uma pessoa que servia feliz a uma beleza triste. E no final, não sei se você viu o filme, mas ele quis contar algo pessoal e apressaram ele, cortaram, o que ele realmente queria dizer não tinha importância. E quase, quase quis te pedir um favor. Mais uma das minhas ideias. Pra você, por alguns minutos, só enquanto eu chorava demais, pra você fazer de conta que abismos não existem. E não existem mesmo, nesses segundos descabidos das horas que não entram no dia. Porque agora, nesse segundo que corri aqui pra te escrever, nesse momento não existe essa coisa de dia e de dois meses exatos. Existe só que vamos todos morrer então pra que mesmo o orgulho de sair ileso mais um dia. Mais um dia ileso. Como se não fosse cheios de feridas que raspamos com as costas das mãos as nossas roupas de guerra e dormimos em paz.
Outro dia tive uma ideia. A cada doze dias, perto das onze horas da noite, eu chegaria sem dizer nada e você também não poderia dizer nada. E então a gente só ficaria se lambendo um pouco. E aqui não tem nada de erótico não, é bonito isso que eu quero dizer. E depois acabava mesmo. E a cada doze dias de novo. E isso seria um contrato já que meu doentinho daqui da cabeça quer tanto. Pro resto da vida. E tudo bem pra você, vai. Sim, seria um contrato, mas olha que maravilha os outros doze dias sem nada. E seria só por uma hora. Então, tudo bem. Acho que você assinaria.
Hoje eu estava no estacionamento do aeroporto e fiquei seguindo as plaquinhas de saída e vi que é isso que faço melhor do que ninguém. São tantas as coisas que eu queria te falar e contar. E eu sigo fantasiando que você entende tudo e melhor que todo mundo. E isso acaba comigo mas, ao mesmo tempo, me tira um pouco da chatice burra e apática de sempre. E então, me vem a ideia de realmente te contar as coisas. E por isso escrevo. Porque se você entra aqui pra ler é você que, com todo o meu amor que você nem imagina, consegue sentir como sendo seu. E então é mesmo essa coisa maluca de eu me livrar do que eu nem sei se sinto pra você, sem nem saber se sente, sentir o que já estava aí esse tempo todo. A troca do absurdo. Nisso trocamos. O absurdo.
Hoje eu perguntei a um amigo. Você era feliz com ela? E ele disse: eu era muito feliz com ela. E muito triste. Sem ela eu não sou nem uma coisa e nem outra. Eu sorri e disse pra ele: eu prefiro a vida assim. Ele disse: prefere mesmo? Eu disse, comendo um pão de queijo: não, não prefiro, mas pelo menos, assim, eu consigo estar aqui com você pesando mais de quarenta quilos.
São, sei lá, duas e pouco da manhã. Passo boa parte de tudo sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu. Mas o tempo todo, ainda, converso e te mostro tudo, o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou sozinha. Não porque era menos sozinha com você. Apenas porque apenas.
Lê pra mim um texto. Com a luz apagada. Quando alguém liga eu fico cheia dos risinhos idiotas porque tiro sarro de quem tenta falar algo e não sai como sairia se fosse você. O maior elogio que eu poderia fazer a uma pessoa era dizer assim: gosto de você além da minha imaginação, não porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, você é ainda melhor que o sonho. Você é além da minha capacidade em te imaginar. E eu jamais te diria isso. Não posso te fazer esse elogio. Mas olha, ainda assim, olha eu aqui de novo. Porque você não é melhor que a minha imaginação, você não é melhor que a minha esperança, você, pra falar a verdade, é bem ruinzinho.
Mas é isso. Um filme com o maluco do fraque e das castanholas me emociona e pronto. O boneco salta da caixinha e espanca meu peito com cabeçadas duras e olhar macabro. A hora que não entra no dia. E eu mais uma vez preferindo não sair ilesa pra me sentir menos machucada.
Você pode, a cada doze dias, ler um texto, a língua, brincar do não abismo, qualquer coisa, só ler, continuar assim, só ler, não me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer você. Eu não soube o que fazer com você, mas sei o que fazer com o não você. Isso eu sei fazer e faço bem. Lembrar que era terrível e incrível. Terrível, meu amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrível.
"

[Tati Bernadi]

terça-feira, 26 de julho de 2011

Me perdoe...

Esse trecho é de um texto chamado Buraco.


"Me perdoe pelas vezes que de tanto querer leveza acabei pesando a mão. De tanto querer sentir, pensei sobre como estava sentindo, e perdi o sentimento. Ou senti sem pensar e isso pra mim é como meus medos das drogas e então precisei roubar a chave do carro do seu bolso pra me proteger de não olhar mais uma vez você e nunca mais voltar pra casa. Minha maior dor é não saber fazer a única coisa que me interessa no mundo que é amar alguém. Me perdoa por eu querer de uma forma tão intensa tocar em você que te maltrato."

[Tati Bernadi]

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mulherzinha

Decidi que todo dia vou postar no blog.

É, eu sei que ja falei isso antes, mas agora é pra valer. É que, nos dias que eu não tiver paciência e emocional pra escrever eu vou postar algum texto ou trecho de outro alguém. Tenho lido blogs, livros e separado alguns que acho interessantes.

Acabei de resolver isso lendo os textos do site da Tati Bernadi. Então, pra começar, um texto dela:



Mulherzinha

"Ligo antes das cinco pra não parecer que ele é a última opção da minha agenda. Dou três opções de restaurante e ele escolhe logo a primeira. Combino de passar umas oito e meia, mando uma mensagem quando estiver na esquina. Aviso que vou atrasar dez minutos. Embico na garagem pra ele não tomar chuva. Pergunto se o ar condicionado está muito forte. Dirijo com uma mão no volante e outra na perna dele. Elogio que ele aparou um pouco a barba, coisa que ele adora pois fui a única a reparar. O manobrista do restaurante abre primeiro a porta dele. Se assusta que é um homem onde eu deveria estar sentada. Entrega o papel do estacionamento pra mim, contrariado, enquanto meu parceiro já está bem distante. Escolho fumante pra agradá-lo mas por sorte sou informada que essas mesas não existem mais. Digo a ele que tudo bem, podemos ficar no frio, na parte de fora. Ele diz que ELE não está a fim de sentir frio e topa não fumar. Eu chamo o garçom e digo que para mim carne e para ele salmão. Eu escolho a taça de vinho dele, eu não vou beber porque estou dirigindo. Eu pego na mão dele, depois da taça estar quase no final, e pergunto se ele não quer ver a linda vista da minha sacada. Ele sufoca um bocejo charmoso e diz que sim. O garçom entrega a conta pra ele, que aperta os olhos pra enxergar com a lente embaçada. Eu ofereço ajuda pra ver os números e numa agilidade impressionante enfio meu cartão ali dentro e faço a carteira de couro desaparecer da mesa. Incluindo o ticket do estacionamento. Ele está com frio e ofereço meu cachecol novo. Ele elogia o perfume e continua com frio. Entendo que são duas aberturas para o abraço. O carro chega e a porta dele já está aberta pelo manobrista, a minha eu mesmo abro com dificuldade porque os carros tiram a maior fina do meu corpinho congelado. Morro de vergonha que o carro está com cheiro ruim, pra variar, o manobrista sacaneou. Abro os vidros e não digo nada pra não ser rude. Coloco música baixinha pra gente falar baixinho. Paro na farmácia pra comprar camisinha mas dou a desculpa que é um antigripal qualquer. Ele faz que acredita e espera dentro do carro comportadinho e sorrindo. O cara do caixa quer me lançar um olhar mas na hora tem medo de me encarar. Acendo as velas novas que ganhei. Coloco minha estrela azul na tomada que dá o clima perfeito. O cd novo do Beck. Ele está nervoso, comentando sem parar das minhas fotos e livros e cortinas. Eu faço ele parar de falar finalmente. Depois de tudo, ofereço levá-lo e me faço de ofendida quando ele cogita um taxi. Ele pergunta se pode dormir comigo, eu apenas sorrio e apago a luz. Ele acende a luz e pergunta se pode ligar pra avisar uma pessoa. Ele liga pra mãe, que não gosta muito. Ele volta envergonhado pra cama. Mas eu, educada, finjo que já estou dormindo. No dia seguinte eu ligo pra dar bom dia. Ele me avisa que vai viajar no feriado. Eu pergunto com quem e ele diz que aí já estou querendo saber demais. Ele volta a ser homem. Eu desligo e, aliviada, choro como uma mulherzinha."

[Tati Bernadi]




Essa história me lembra algo...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Menos

Hoje. Agora. Só agora. Eu queria menos. Pensar menos, sentir menos, ser menos.

Essa coisa de ser várias, pensar demais e sentir mil coisas ao mesmo tempo (típico de geminiano) é bom em diversos aspectos, mas chega uma hora que cansa. Por exemplo agora.

Talvez ser menos, nessas situações, seja o caminho pra ter mais. Ter mais segurança e 'certeza' daquilo que quero, daquilo que penso. Talvez assim eu fosse 'mais eu' e deixasse um pouco de lado os outros, não me importaria tanto. Talvez, se fosse assim, não teria essa de outro ponto de vista. É isso, é certo e ponto. Acabou. Menos dúvidas, menos incerteza, menos insegurança, menos preocupação... mais madrugadas de sono.

Por um dia, um diazinho que fosse, poderia ser assim. Só pra eu ter o gostinho, só pra saber como é.



E enquanto não da pra ser menos continuo assim... sendo várias e querendo sempre mais.

todos os espaços...

"Quando enfim penso que estou me acostumando, que estou te esquecendo, você ressurge de forma inesperada ocupando todos os espaços."

[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pode não parecer, mas...

"Sou frágil e estou frágil agora. Tenho passado por momentos não tão legais. Sei que vou superar, mas nem sempre acho força. Eu preciso muito agora de alguma ajuda, uma mão na cabeça, alguém que esteja ao meu lado."

[Clarissa Corrêa]


Durante uma conversa no MSN nessa noite de domingo a Rê me manda essa citação. Acho que vale a pena publicar, registrar.

Gosto quando aprendo

Sempre gostei de pessoas que pudessem me ensinar algo.
Gente mais experiente, que me mostrasse novos caminhos, novas perspectivas, novos conteúdos. Sempre. Seja pra amizade, seja pra romance. É sempre assim.
E só fui parar pra reparar nisso recentemente.

Tenho alguns amigos que gosto de chamar de Nerds. Os chamo assim pela maneira que estudam e que gostam de estudar; por gostarem de ter maior conhecimento pelas coisas; pelo que me ensinam, mesmo sem saber que estão ensinando; pela facilidade em absorver novos conteúdos; e também pela abertura a novas coisas. E, até me enquadro nesse 'perfil nerd'.
E foi pensando no quanto os meus amigos mais próximos são nerds que cheguei nessa conclusão.

Talvez por isso eu sempre tive uma queda por aqueles 'nerds', sabe? E, de preferência, aos que fogem um pouco do estereótipo. Os que além de inteligente são bonitos, ou, no mínimo, não são feios. Deve ser coisa de Geminiano mesmo, essa de achar inteligência algo afrodizíaco.

É esse o tipo que logo de cara chama minha atenção. Gente que gosta de conversar, independente do assunto. Gente que tem um ponto de vista, que fala, que debate, que ensina, que se mostra. Gente que não tem medo de falar do que sabe, e do que não sabe também... gente que não tem medo de aprender, e que quer sempre mais. Saber mais, viver mais.

E é rodeada de gente assim que eu fico bem; que eu expando meu horizonte; que percebo mais outros pontos de vistas, outras perspectivas; que aprendo sem precisar de escola, livro ou professor. Como dizem por ai "somos professores de nós mesmos". E acredito que são nas relações onde a gente aprende mais. Aprende mais conteúdo, desenvolve o raciocínio, aprende sobre sentimento, aprende sobre arte, aprende como se faz e, principalmente, como não se faz. É na convivência que eu vou me fazendo, e me conhecendo e me reconhecendo no outro.

O início dessa percepção foi em 2008, mais precisamente no carnaval, depois de uma longa conversa com a Loirinha. Naquele dia eu começei a perceber o quanto eu aprendo com meus amigos, com outras pessoas. O quanto uma conversa pode revelar outras perspectivas, outra maneira de ver e entender as coisas, outra visão de mundo. O quanto uma ou mais conversas podem ser muito mais educativas e inspiradoras do que todo o tempo que passei em escola e faculdade.
E, de lá pra cá, venho, de tempos em tempos, refletindo isso.

Gosto de conversar, compartilhar experiências, e, talvez por isso, gosto mesmo é de quem tem conteúdo. E que não tem medo de mostrá-lo. Quem tem experiência e fala dela, sem medos; quem aconselha.

Meus amigos mais próximos, meus amores, são esses. É gente que conversa, conversa, conversa, fala, ouve, aprende, ensina, muda de idéia. Gente que sente, e sente muito, sente forte. Gente que tem sua opinião firme, convicta, mas mesmo assim ouve e respeita a do outro. São pessoas que mudam também. Que mesmo com seus medos, seus erros, seus vícios e suas virtudes, (quase) sempre estão dispostas a ouvir, a aprender, a mudar. É gente que fala do que sente, do que viveu, do que aprendeu. É gente que compartilha experiência.

E experiência é uma coisa que geralmente esta ligada a idade. "Mais experientes" geralmente remete a pessoas mais velhas. Eu, há um bom tempo, parei de fazer essa relação. Acredito que tem muita gente, bem mais nova que eu, que tem muito mais experiência que eu em diversos assuntos, da mesma maneira que eu posso ter mais esperiência em certas coisas do que a minha avó por exemplo.




E fica aqui o meu muito obrigada a todos que, de uma forma ou outra, me ajudaram a ser o que sou hoje. A esses que se aproximaram, se mostraram, se deixaram ver; que ensinaram e aconselharam na maioria das vezes sem saber; que compartilharam as experiências, o tempo, a vida, a memória.

E que Deus permita que eu continue a compartilhar a minha vida, a vida dos meus amores, as memórias. Que eu continue a encontrar gente interessante, inteligente e disposta. Amém!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sentir falta. Sentir saudade...

Sentir saudade é diferente de sentir falta?

Há quem diga que sim, há quem diga que não.
Eu acredito que sim, que é diferente. Como diz um amigo meu "coisas diferentes tem nomes diferentes", e saudade é diferente de falta.

Sentir falta, pra mim, é sentir vontade de estar perto, de estar presente, de saber da vida, de ver essa outra pessoa fazendo questão da sua presença, perceber o outro preocupado mesmo que não haja motivo pra preocupação. É interesse, vontade de saber. É, na verdade, querer ter de volta aquilo que aconteceu um dia e hoje não acontece mais.

Saudade é diferente, saudade é mais amplo, é menos pontual. Acho que está ai a diferença.

A Saudade é mais abrangente. É contínuo. Pode ser de gente, de animal, de uma viagem, de um lugar, de um sentimento, de um tempo que passou, de você mesmo ou até disso tudo junto.

A Falta não. Sentir falta é pontual. É de algo específico, é de alguém específico. É sentir falta daquele tipo de conversa, daquele jeito de olhar, da maneira de arrumar o cabelo, da brincadeira que exista só entre você e essa pessoa, do apelido que só sua turma sabia, do passeio que só acontecia com aquela pessoa ou naquela determinada situação.

Só se sente falta daquilo que se teve um dia e hoje não se tem mais. Saudade não. Saudade acontece mesmo que o objeto de que se tem saudade (seja pessoa, coisa, sitação ou sentimento) ainda exista, ainda esteja perto e presente. A falta quer de volta, quer por perto. A saudade é mais livre, pode existir sem querer que aconteça de novo, sem querer por perto. Saudade indica que foi (ou esta sendo) bom, sem pesar por ter passado, ou por estar mudando. Falta é pesado, quer de novo a todo custo, mesmo sabendo da impossibilidade de acontecer. A falta reconhece que passou, que acabou, que não volta mais. A falta é a certeza do fim.

Já ouviu a expressão 'matar a saudade'? Aposto que sim. Já ouviu alguém dizendo que vai 'matar a falta'? Eu nunca ouvi. A saudade ainda trás, de alguma maneira, a esperança do reencontro. A falta não mais. Saudade é saudável, a falta é doentia.



As vezes eu sinto saudade e sinto falta da mesma pessoa. As vezes sinto só um ou só outro. Hoje, por exemplo, eu matei a saudade da Rê (ela passou uns 10 dias fora de Goiânia viajando) mais continuo sentindo falta dela; muita. E ultimamente me percebi sentindo falta de algumas pessoas. Assim, no plural.

É assim que eu ando, sentindo falta ao invés de saudade. E, depois de filosofar sobre os dois sentimentos, me reconheci numa situação ainda pior do que eu me imaginava. É o reconhecimento de que acabou. Passou o tempo. Já foi minha vez. A relação mudou, e, pelo menos pra mim, (por enquanto) mudou pra pior.



Que essa falta seja, aos poucos, no meu tempo, trocada pela saudade.

Amém!

sábado, 9 de julho de 2011

Um fantasma.

Cheguei em casa com uma vontade louca de escrever. E essa vontade começou no caminho de volta pra casa, voltando do esconderijo, do show da Versário.
Vim de lá aqui cantando mentalmente Avril Lavigne ("I miss you, miss you so bad. I don't forget you. Oh! It's so sad. I hope you can hear me. I remember it clearly... The day you slipped away was the day I found it won't be the same") e pensando nele, em mim, nele...



Nunca fui do tipo que beija muito. Esse negócio de beijar um aqui hoje só por beijar nunca foi 'minha praia', como dizem por ai. Por isso já passei um bom tempo sem beijar. Várias temporadas. E acho que, por passar tanto tempo assim sem beijar antes Dele, quando o beijei cheguei a comentar que achei O beijo "normal". Que não tocaram sinos, não tremi, não gelei a mão, não levantei o pézinho, enfim, nenhum desses 'sintomas' de paixão súbita, conto de fada ou filme de hollywood aconteceu. E eu, de verdade, achei que não rolaria nada mais do que aquele beijo. Depois de um tempo, pra minha (feliz) surpresa, rolou. Então, quando acabou, acabou mesmo e eu voltei a passar um bom tempo sem ficar com ninguém.
E depois desse tempo beijei um cara, um outro carinha, e só ai fui entender que aquele beijo "normal", de alguns meses atrás, tinha SIM sido meio "mágico", como algumas amigas diriam. Só depois Dele que eu fui entender, ou melhor, sentir, um pouco disso que eu ouvia e lia tanto sobre, mas ainda não conhecia direito.

Pena que precisou passar, e passar tanto tempo, pra eu entender parte da 'mágica' que envolve estar apaixonado.

E ele ainda me dói um pouco. Agora menos, bem menos do que já foi um dia. Mas ainda, numa madrugada ou outra, dói. E mais uma vez eu precisei de um 'outro carinha' pra perceber isso. Pra perceber o quanto ele ainda me afeta, mesmo sem saber; o quanto eu ainda tô ligada a ele, da maneira que eu menos queria; o quanto ele me faz falta; o quanto eu sinto saudades dele; e, principalmente, o QUANTO eu me arrependi (e me arrependo) de não ter falado nada, não ter dado uma resposta num 19/09.

A verdade é que Ele ainda é um fantasma. E um fantasma que vive a 'assombrar', a aparecer.

Por mais que eu diga que não, que ta tudo certo, que passou; lá está ele, bem dentro da minha cabeça. Rondando por todos os lados, em todos os horários. Principalmente quando surgue uma chance, mínima que seja, de existir um 'outro alguém'.
É ele? É o 'fantasma'? Ou sou eu projetando ele em todo outro 'carinha' que vir a aparecer, comparando aquele momento mágico com o que nem chegou a acontecer?

A resposta? Eu já tenho. Só está em algum lugar que eu não encontrei ainda... ou não quero encontrar.